Todo dia eu como besteira. Na hora do almoço como sempre algo que não presta e, embora seja gostoso, acaba me dando uns quilos extras. Resolvi melhorar essa situação, apertando meu tempo para voltar a almoçar num restaurante bacana que tem no Campo Grande.
Cheguei por volta das 11:30h, e não tem muita gente. Coloquei minha mochila numa mesa para dois, se por acaso muita gente chegasse e eu ficasse sem lugar. Calmamente escolhi meu almoço, por sinal, bem saudável: salada de rúcula, purê de batatas, cenoura, alface, beterraba, couve-flor e uma carne ensopada com molho suculento meio vermelho, meio branco.
Na volta para a mesa, contente e com a barriga gritando, percebo que na outra cadeira tem uma bolsa com o nome de uma loja de roupas de gala: "Maibela" (olha o merchan...). Minha mãe sempre compra roupa nessa loja, e como houve formatura recentemente, temos várias dessas bolsas em casa. Pensei no ato: é minha mãe! Claro, ela sabe que almoço aqui às vezes, viu minha mochila e sentará comigo. Contente pelo encontro, comi na maior felicidade. Mas logo veio um sentimento de que poderia não ser mamãe. Odeio dividir mesa com quem não conheço, ainda que seja obrigada a fazer isso algumas vezes. Da última vez o rapaz quase compartilhou sua comida comigo enquanto mastigava... E eu nem pedi.
Já desanimada pela demora e imaginando que minha mãe não é a única cliente do Maibela, já me preparei para a surpresa. Neste momento vem andando vagarosamente uma senhora com um prato na não, já deve ter seus 79 anos, bem velhinha, boca murcha. Mas não me entenda mal, adoro idosos, quem me conhece, sabe. Mas isso não significa que eu goste do som que eles produzem enquanto comem. E eu sei que quando eu estiver velha também o farei, por isso, nessas ocasiões, prefiro aguentar.
Ela saiu novamente, voltou com um pedaço de pudim e, quando sentou olhou para mim e disse: "Bom apetite", agradeci. Apoiou os braços na mesa e começou a orar, mostrando total tradicionalismo católico. Bem devagar começou a comer, o repolho caiu de sua boca no prato e, como a mesa é pequena, não dá para fugir. Vi que ela tinha pego a mesma carne com molho, prontamente procurei outros pontos de fuga para parar descansar meu olho de tarefa tão enfadonha, difícil. A mesa poderia ser maior, essa pequena distância é incômoda. Ela colocou a carne na boca que mal abria e o molho foi escorrendo e, para resolver, ela produzia um movimento nos lábios murchos e melados para sugar o molho meio branco, meio vermelho, que já tinha deixado de ser suculento.
Sinto em dizer, mas não aguentei, nada mais me dava prazer. Meu estômago, antes faminto, recusava qualquer garfada e olha que nem sou uma pessoa chata, converso de qualquer coisa enquanto como, mas eu estava vendo, e aí era demais. Deixei o prato com comida, ainda. Pedi licença a senhora que ainda depositava em seu queixo restante do molho e saí. Ela me olhou com uma cara indignada, como quem diz: " Deixando comida no prato, que absurdo, e eu ainda desejei bom apetite", e eu fui pagar com a cara de quem diz: "A verdade é que eu perdi o apetite todo, senhora. Me desculpe, mas vou tentar uma marmita, agora".
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