sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Viagem

Um hábito de infância meu sempre foi ler. E ando lendo bastante ultimamente. Leitura diversa, desde os gibis, jornais, aos romances. O último livro que li foi de Marina Colasanti, "Ana Z. Aonde vai você?". Um livrinho que vivia esquecido, já ferido pelo tempo, no pequeno acervo que tenho por cá. Fiquei tão encantada que pretendi aguçar a curiosidade dos poucos que passam por aqui.

Ana Z. Aonde vai você? não é uma história para adultos, é um infanto-juvenil. A aventura de uma menina que vai até o fundo do poço, mas o fundo do poço não parece ser tão ruim assim. Lá descobre-se coisas loucas, mas também alfineta-se a alma. A linguagem de Marina é tão bem construída na descrição dos ambientes, das personagens, das situações, haja vista que a história se passa no exato momento em que se lê, pois a escritora coloca-se no mesmo lugar que o leitor, que a possibilidade da imaginação encontrada no ato da leitura se estica numa dimensão quase do sonho, daquilo que de alguma forma foi ou está sendo vivenciado, o que ratifica sua finalidade infanto-juvenil no exercício da criatividade.

Não quero revelar detalhes da obra. Assim perde a graça e ninguém vai querer ler. Mas digo ainda - para atiçar a curiosidade - que as ilustrações concebem um tom a mais, o tom do sonho, da escrita que se completa com a ilustração, quase que de forma surreal, pois, saindo da conotação popular de "fundo do poço" é impossível imaginar que pode-se ir a tantos lugares o tomando como caminho. E voltando à conotação popular, talvez seja também pensar que até no fundo do poço encontram-se saídas, que estão bem aí, na ponta do seu nariz. O que é mais bacana de tudo isso é que as ilustrações são produzidas também por Marina, que além de lidar tanto com a literatura e com as artes visuais, lança mão também do jornalismo, o que de fato ajuda na organização textual e expõe uma coerência lúdica impressionante.

O final me deixou um pouco assim... Não sei... Sei lá. A sensação é essa mesmo. Pelo menos foi o que senti. Finais em que se pode decidir são sempre angustiantes. Ninguém gosta de coisas no ar. Mas também há a sensação de que não terminou, que Ana Z. vai estender sua história, mesmo que a dúvida do sonho, da realidade, do surreal prevaleçam. Mas o que é a vida sem isso? A viagem com Marina e Ana Z. foi ótima, estive mesmo com elas, também fiquei com medo de algumas figuras que encontramos pelo caminho, mas garanto o retorno tranquilo. Portanto, deixo, então, a capa do livro. É isso. Leiam.